Wednesday, November 21, 2012

journey to dawn



doçurra: atribuição casmurra
do dom
enviesamento do capital de sangue
À Senhora Gorda
que lhe importam os desvios?
ELA espera-nos sempre
com chá e bolos

uma vez em chauvignon avignon sei lá
a quadratura francesa se abriu em plenos alpes
e aquele sol, aquele ar
disseram: casa.
e eu quis fugir.
E fugi.

por todos os deuses da caça!

(cansei de correr contra
a estreiteza
quando a escansão
mora toda na potência
de minha mãe
a potência de minha mãe?
elacomduasasaseu)

este teclado onde no espelho do reflexo
vejo as tuas mãos nas minhas
mas nao quando hesitam,
nao: quando se lançam
alongando os dedos tanto
que sao lanças

lindas mãos
tambem pasaram por avignon
por aeromoça
por estaleiros
por navios
por desertos
por concretos
por mercearias
peitos
terra barro
firme
peitos 
papel
teclas
teclas
teclas
som

que promessas são estas que me consigo fazer
senhor príncipe?
do meio da noite consigo apregoar clarões
para calar as vozes
mas e para falar à Voz, que palavras há?

que lhe digo quando estamos as duas de gatas
eu e ela
eu que sou ela
e ela que me transcende? acende no transe

ressentimentos e promessas
e quase nenhum pensamento
quase nenhum olho
que dê o salto do lince: desdobrar a dobra
é sempre da dobra
que brado as calamidades:
as promessas
de ar e sol e bondade
quando a verdade é que estamos 
tu e eu
a aprender a respirar debaixo d'agua

pelo menos prepara-se um êxodo, prepara-te
para um passeio

preciso de descolar só uma nica de graus
uns quanto bastem
para me falar em outra
pessoa do singular omnipotente
no menos, ambivalente.

ela é assim:
dorme e vigia
vigia e dorme

o nome do seu cavalo ainda não sei
não o vi
talvez a virgem ambidestra venha montada num chibo
ou numa côrça
talvez voe da velocidade 
que não caça- engendra espaço

o que a adorna
também não vou referir, nem importa
as peles estão lá
as penas
os sangues
as tranças
as contas  
coral
ouro 
latão
(e a simetria nao)
nada disto é o adorno
e ela que conhecece o que aí vem
morrendo saberá definitivamente

sei que se exercita
e que se levantará um pouco 
tarde mas plena
de destrezas


a inexecedida
cuida de si


na grande viagem de que a noite 
é a suprema metáfora
(na grande viagem até ao amanhecer)
a última canção é a canção da louca
uiva doce um enredo de espiral
sucumbe a essa sereia 
e terás sempiterna a terna 
doçura 
do breu.

resiste,
e a luz te 
rasgará

ela está sempre vigilante
na aurora
distraida 
da aurora
vigilante
do romper da barra 
do sol en soi

fim da canção da idolatrada
fim da canção da adulterada


Tuesday, October 30, 2012

TOTEM DA PALMEIRA



ponto de luz para a travessia

EXORTAÇÃO DE CONVOCA EM COLAR
COPAL/
COBRA CORAL
agora vou salvar
da vida a morte
dessa palmeira

agora vou alçar
da vida da morte
essa palmeira

agora vamos palmeira
mandei busccar
um sem fim
de conchas para te adornar
trago o meu sangue
pra bô bebe
seiva com seiva/shiva se pa
ga
nha
luta
barganha
-minha assim,
pela tua
pode ser?
agora vamos
pega-te pelos
teus cabelos
salva-te do
próprio afogamento
-salvé barão munchausen,
se pele que essa água
é gelo
memo-

alguma coisa
se poderá queimar
em distracção dos aflitos
e para que sigas
no caminho do fumo
é por ele que tornarás
até mais: é ele que regressarás

fitas & fumo
que mais?
ah sim, a cobertura disso tudo-
mil chapéuzinhos
albergam
o infinito.
corrijo: o inúmerável (prova que deus existe)
então: inúmeráveis chapéuzinhos
cobrem a delfagração
das fitas

posso explicar
a fita é a língua
da boca da ferida
(e é pela boca da ferida
que o poema canta
a mão esfria
o que compreeende/ cria)
é ela que esvoaça
viperina
bífida amarelando
o nome dela/o medo dele
esvoaçando tanto esquecimento
o que ela esvoaça é
o braço do esquecimento
mas do exagero
reluz
em cobra criada coral
reluz de presas fe-tais

humilis palmêra humilis!
te trago o meu colar
meu coral meu cunhal
meu estocado à jugular
esse é meu colar!
deve ser usado
com as unhas
viradas para fora!
para o exterior
unhas de folha
folhas de unha
brancas
para fora

onze fitas de ogum
esvoaçam do teu terreiro
mas agora se estiram
pro-teu caminho
segue elas
para de onde vêem

chega cá coquêro
coitado
não morras de saudade
que é ceder de choque térmico
vem daí vem de ser
assa
ssi
na
do
assino por baixo
eu sou
o excelentíssimo juíz
sou o senhor
desembargador
portanto se alce
venha de ser
o monumento
instrumento da saudade
do pores
e tirares
de
sol
a instituição
do restolhar que nenhuma
criatura em seu passeio nocturno decifrou
venha de ser o último pensamento
arrependido
que se varre da mente de um homem
-não entendi seu canto.

vem pra luz
do riba tejo
ela pode
na verdade
ser qualquer
uma

coquêro
camarada
és o nosso carro naval



(com
cascos)


VEM
TE CHAMO
VEM
ETC.

Friday, October 26, 2012

GRANDE ONDA ESTOURA A ANGÚSTIA DO QUE REPOUSA


Isto não é voar, isto é cair. Com estilo.

Buzz Light-Year
de azuis pálpebras
abro a portada
depois o vidro
as folhas tremem na luz
na mão esquerda fumega a xícara
café que só bebo com cardamomo
(fora isso, é um desperdício dos dois)
respiro em frente
inspiro o ar frio da manhã
me abro na luminosidade da manhã
as plantas estão aqui
contemplo o que não vejo
-primeira mentira do dia-
o que contemplo não vejo
chego-me à varanda
e então que a onda
aparece
aparece assim estoura
pelos vasos, pelo concreto
pelos ossos pelas janelas
sim, o dos vidros o Habitual
Grande Espetáculo
das partículas & da luz.
festejo de arcolíricos
e é então que vejo a onda
parede de água
com léguas no bucho
vejo assim:
é então que se deixa
este nome pela água,

deixa-se este nome pela água
estas cavidades canelas
maxilares órbitas
vias nasais pêlos
tudo em troca de água
água por cara, de repente
tomando o lugar de um dente
-alguém deveria apreciar
este momento do dente
dando lugar à água
por instantes se materializar
todo líquido
osso líquido viagem do osso
e bom, os vasos, a varanda
a meningite dos dois anos
da minha
irmã
as vizinhas, as vozes
a doce ordem incessante
o som
nenhum som
nenhum som faz

agora lembra-te phlebas
aqui é que não se ouve nada
talvez evoluídas criaturas
com nomes franceses e paralelos
olhos felinos de poesia
saibam descortinar
possam escutar
do movimento o seu som
e então talvez para eles
e para o nosso espanto
de leite
os torvelinhos de ossos
cantem em espirais nem sempre ascendentes
histórias de desilusão e altura,
estalinhos

mas nós os que não escutamos
nada
absolutamente nada
-à excepção do peso
cumprimentamo-nos
enquanto a onda esmaga
mais aldeamentos e galga
sem instantes toda a avenida

-riso debaixo d'agua
fogo submerso
alguém passou
c'uma árvore nos dentes-

nós que os não escutamos
também já não temos pressa
apenas vamos nela,
se passamos por um ou
por outro cumprimentamo-nos
e submersas as lágrimas
já não se contam mais
vamos com as vértebras deslaçadas
cheios d'água vamos, cheios d'água

me llenó de agua y me vació/
de todo lo demás

em toda a lama
-minha nova cama-
se acomodam estes
(ossinhos) luminosos.
seres de guelras que se fascinariam
pelo montículo de ossos
-que outras ruínas possuem
para o seu enquadro?-
poderiam retratá-lo
para a posteridade pintando
com um pequeno e líquido
pincel
um quadro de alveólos
um processamento de
correntezas

e uma aureóla-
o que do lado de lá
chamam de cheiro

que belo fóssil
estou dando
com aureóla
de café


Friday, October 19, 2012

baby blu voltou a fazer das suas 2



valoriza a mitra, valoriza a mitra,
elas começaram
depois foi: valoriza o cárcere
valoriza o cárcere


a liberdade escorre
lá fora como cá dentro
e preso está o intermédio
pássaro

seria bonito de cantar
agora

mas algo se quebrou,
está-se quebrando
agora o bafo novo
do medo do padrão
-e isso inclui o de luz

estou-me precipitando, eu sei
são os cavalinhos loucos
nos seus lençois
dão cambalhotas medievais

quem desenha
estas paredes
quem desdenha
estas paredes

a última coisa que as vozes me disseram
foi que não tivesse paciência

que se tivesse que levar alguma
coisa que a agarrasse depressa
sei que a maneira como me olham
sempre representa a boa alfinetagem
da fome ou da coincidência

mas era pegar ou largar
e nunca é pegar ou largar

baby blu voltou a fazer das suas


valoriza a mitra, valoriza a mitra,
elas começaram
depois foi: valoriza o cárcere,
valoriza o cárcere

acho que não preciso dizer mais
do antagonismo que agoniza
nestas quatro paredes

a liberdade escorre
lá fora como cá dentro
e preso está o intermédio
pássaro

seria bonito de cantar
agora

mas algo se quebrou,
está-se quebrando
agora o bafo novo
do medo do padrão
-e isso inclui o de luz

estou-me precipitando, eu sei
são os cavalinhos loucos
nos seus lençois
dão cambalhotas medievais

quem desenha
estas paredes
quem desdenha
estas paredes

a última coisa que as vozes me disseram
foi que não tivesse paciência

que se tivesse que levar alguma
coisa que a agarrasse depressa
sei que a maneira como me olham
sempre representa a boa alfinetagem
da fome ou da coincidência

mas era pegar ou largar
o que nunca é pegar ou largar

Friday, October 12, 2012

DO OBJECTO-SIM

descerá o índio


mapa do que é sem esforço

Margem. Ah sim, margem. Que viagem suporta o exôdo? Não entendendo nada, assim que vamos. Como? Comendo claro, seu Osvaldo. E como ir ao exótico sem lhe ficar eternamente lambendo as bordas? O exótico é como a carne de uma hóstia, mesmo encarnando nunca se prova. Convém não esquecer o sangramento que não é feito de nuvem. Os rios. O que dura neles. Alguém cantou o amor- só o amor com a sua inocência nos torna inocentes. Pela margem que compete com a minha canoa gostaria de louvar os seus esmeros. Os rios. O que amas dura. Voam centros, escutas? Se alguém exagera sou o diapasão de deus. Louco, vibrante, expectante, anunciante. Sem esforço. Interromper esta gestação de bondade é o que lobos me pedem. Repara, deles sou a branda vontade lírica e a carne. Repara, são casos em que a fúria purifica. Dizem que são sempre dois, tanto o um como o outro. Perguntam qual dos dois alimentar, mas não está em vista a vitória. De um sobre o outro. Dos dois entre mim. Honre, não honre. Que mais pedir do meu melhor amigo que a sua natureza? Quem está aí contigo? É com esse que eu vou, bicho. Lume d'água, bordas existem para a ânsia. Mas aí aparecem seres por ansiar: Ava me perdoe. Sem o enfeite do efeito, declaro a morte do artista: eis o homem animal. É, pisa lenta a pata do não ornado. Desconcerta sem conserto e ainda assim arde, arde o não-performativo. Índio quer dizer homem. Perdoadora canoa perduradora da perda, uma figa: ela desliza perdedora da dobra supérflua. Re-sentimento. O conhecimento excede um rancor que se diluiu já não é mais genético (do jeito que as coisas estãos, muitos se esforçam para que seja quinético.) Kaput, alçou. O seu remédio é que é perder a dor. Por isso essa gestação. De mil em mil anos. Seiscentos já foram, o grosso está à frente ou adiante? Espero que os outros quatrocentos se destroquem em quatro centros, uns poucos de dias e a gente avance um tico. Vamos, vá em frente aceite este cachimbo. Portal do tempo é afinal acelerar processos. Talvez se galguem numa tarde. Também me pediram segredo todas as noites do sonho. Só não entendo porque o acampamento quer esquecer o grande relento. Entender até atendo. Apesar de tudo, gostaria de descer um pouco. O presente? o correcto uso da palavra. Agora basta, meu filho, vá para dentro. Escreve-se esta carta nas várias direcções. Vai-se enredando, enredando vai. Como o mosquito. Também o âmbar impermanece. Suas irmãs foram na frente.

compõem um canto cujas células são vértebras
digo, versos.